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quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010
Conto do Boto
Este mamífero, de temperamento afável e brincalhão, pode ser encontrado tanto em águas salgadas como doces.
O
boto cor-de-rosa, personagem principal de uma das lendas mais populares
da Amazônia, é chamado também de boto tucuxi (Sotalia fluviatilis), uma
das espécies encontradas na Amazônia e considerado amigo do homem
(acredita-se que se dedicam a proteger os seres humanos dos perigos).
O
boto é descrito como rapaz bonito, bem vestido e de chapéu na cabeça,
para que não vejam o orifício por onde respira. Boêmio e ótimo
dançarino, nos bailes encanta as moças, leva-as para igarapés afluentes
do Amazonas e as engravida.
Antes da madrugada, mergulha no rio e se transforma em boto.
Sempre aparece nas casas onde vivem mulheres jovens e bonitas.
Ele aproveita a ausência dos homens e se transforma num belo rapaz.
Sempre vestido de branco, seduz as moças e nenhuma delas consegue resistir ao seu encanto.
Na
Amazônia, sempre que há um caso de paternidade desconhecida a mulher
diz que foi o boto e, na região, ninguém duvida da história, o que deu
origem à expressão regionalista: "Foi o boto, sinhá!"
A
credibilidade no mito é tamanha que há casos de pescadores perseguindo
e matando o pobre cetáceo, por achá-lo responsável pela gravidez
indesejada de suas filhas ou mulheres.
Os homens também podem ser alvo do boto.
Ele ataca quando quer se vingar pelo roubo de uma namorada.
Por causa disso, sempre que um pescador sai sozinho leva uma cabeça de alho como proteção.
"A
crença do boto, o delfim fluvial do Amazonas, tornou-se poderoso
instrumento de corrupção. Os Don Juan citadinos, os regatões dos
negociantes de quinquilharias, que são a praga do comércio amazônico e
que viajam de um porto a outro vendendo suas mercadorias falsificadas
por preços vergonhosamente onzenários. Rebutalho da civilização eles
não hesitam em se prevalecer da superstição dos tapuios. Muito
arraigada está a crença nos poderes do olho de boto; tais objetos
atraem às praias as jovens índias para ludibriá-las."
Reza
a lenda que o boto costuma perseguir as mulheres que viajam pelos rios
e igarapés; às vezes, tenta virar a canoa em que elas se encontram, e
suas investidas se acentuam quando percebem que há mulheres menstruadas
ou mesmo grávidas.
Ele, o boto, é o grande encantador dos rios.
Há,
inclusive, histórias em que a moça é fecundada durante o sono... Para
se livrarem da "influência" do bicho, os caboclos vão buscar ajuda na
magia, apelando para os curandeiros e pajés. O primeiro, com suas rezas
e benzeduras, exorciza a vítima, e o segundo "chupa" o feto do ventre
da infeliz.
Sobre
ele narra-se o seguinte: "Nas primeiras horas da noite transforma-se em
um belo rapaz, alto, branco, forte, grande dançarino e bebedor, e
aparece nos bailes, namora, conversa, freqüenta reuniões e comparece
fielmente aos encontros femininos. Antes da madrugada pula para a água
e volta a ser o boto".
Falou-se
ainda: "A sorte dos peixes foi confiada ao Uauiará. O animal em que ele
se transforma é o boto." O Uauiará é legítimo filho da selva e tão
conquistador quanto o Boto. Conta-se uma história incomum sobre o
Boto: "Dois pescadores, de vigia, sacuriram três arpões de inajá
(espécie de palmeira) num vulto de homem que freqüentava certa casa na
margem do rio. O homem fugiu e deitou-se à água. No outro dia boiava um
grande Boto com três arpões de inajá fincados no dorso".
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